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Medo de Regime?


quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Você sabe que precisa emagrecer, mas deixa pra começar na segunda-feira, enrola mais um pouco e lá se foi mais um mês de sofrimento... Por que a gente empurra com a barriga o começo da dieta e desiste tão fácil depois de começar? Entenda o que está por trás desse adiamento e por que fazemos isso, se o que queremos é estrear aquele biquíni?

Por Marina Viktor

É óbvio, todos pensam em fazer regime para perder peso, melhorar a auto-estima. A questão é que, quando a gente imagina o que vai enfrentar para chegar lá, vem o medo do fracasso, que é o responsável pelo eterno adiamento da dieta. Cortar doces, reduzir petiscos e ficar longe da geladeira: sabemos que vamos encarar essa barra. Temos consciência também de que não basta atingir o peso ideal. Depois de tanto sacrifício, é preciso conservar... enfim, é dieta para toda vida! Diante desse desafio, o receio de falhar é inevitável. Quem já tentou várias dietas se sente como Sísifo, aquele personagem da mitologia grega, condenado a arrastar eternamente uma rocha enorme morro acima, sabendo que ela vai rolar para baixo, de novo, assim que atingir o alto.



Mas, se o medo de não ter êxito é certo, o fracasso não é. Há vários exemplos de pessoas que conseguiram emagrecer e se mantêm magras há anos. Como? Ao invés de lutarem contra si mesmo e se culparem quando a pedra da força de vontade rola morro abaixo, elas preferiram aprender com os erros e conseguiram reeducar a alimentação.



Pistas do medo de fracassar

Um dos indícios desse temor, conforme Adriano Segal, diretor de Psiquiatria e Transtornos Alimentares da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), é justamente negá-lo, ao dizer ou pensar: “Eu não quero perder peso”. Assim, evita-se a ansiedade de lidar com dietas (e a privação que causam) e não se corre o risco de errar – nem de acertar.

Segundo Segal, assim como o receio de fracassar pode paralisar algumas pessoas (“nem vou tentar”), pode soar como desafio para outras (“ah, é, preciso emagrecer?; É difícil? Pois está no papo!”), ou fazer com que o indivíduo se prepare para evitá-lo, que é a atitude mais sensata – “tentarei não repetir os antigos erros” – desde que, claro, não se automassacre caso escorregue de novo.

Admitir o medo da derrota diante dos outros também não é fácil. Ele vem mascarado com frases clássicas: “Não entendo! Estou de regime e não perco peso! Meu metabolismo deve ser péssimo!”. Acreditar nas desculpas que a gente mesmo inventa (muita gente acaba acreditando, sim), pode ser o primeiro passo para desistir da dieta, diz Segal.



Recaídas não são fracassos

Geralmente as pessoas que encaram cada deslize como o fim do mundo são aquelas que oscilam entre o absoluto controle e absoluto descontrole, analisa a psicóloga Vivian Behar, uma das fundadoras do Ambulim (Ambulatório de Bulimia e Anorexia), do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Bom, agora que ‘pequei’ comendo esse pedaço de torta de chocolate, vou para o ‘inferno’, mas levo junto a torta inteira”, explica ela, falando sobre os pessimistas diante do regime. “Essas atitudes drásticas”, comenta Vivian, são típicas de quem também costuma dizer: “Nooossa, comi cinco brigadeiros, devo ter engordado 10 kg!”

Claro que, depois de imaginar que cometeu tamanho crime, ao ser humano só resta se penitenciar com jejum – para, dois dias depois, atacar a geladeira feito um leão faminto. “O único jeito de sair desse tormento é seguir pelo caminho do meio e se permitir matar a vontade de ingerir alguma coisa gostosa em quantidade razoável de vez em quando, com a tranqüilidade e realismo de que o céu não vai cair sobre a nossa cabeça por causa disso”, afirma a psicóloga.

Ter maturidade para saber que os deslizes fazem parte do processo e não devem ser encarados como fracassos, mas como escorregões normais, é fundamental. “Sempre dá pra levantar, sacudir as ‘migalhas’ e seguir em frente”, garante o psiquiatra Adriano Segal.



Até que a morte nos separe

Se você tem tendência a engordar, deve sentir aquele gosto estranho de “vou ter que fazer dieta pra sempre”, o que assusta qualquer um. Não dá nem vontade de iniciar. Há quem tenha começado tantas vezes que desistiu. Está infeliz com o próprio corpo, porém, diz que se sente bem e nem pensa mais sobre os benefícios que teria se afinasse. Já se conformou em passar sem eles. Em geral, quem joga a toalha a esse ponto só acredita na eficácia de dietas castradoras, rígidas e que não respeitam os gostos individuais.

“Essas proibições radicais acabam deixando a pessoa com pensamentos obsessivos (quer, porque quer, comer aquilo). Ninguém agüenta viver assim, ainda mais com a certeza de que será para sempre”, diz Vivian Behar. Mas, se não dá pra fugir do “até que a morte os separe”, dá ao menos para torná-lo mais agradável. “Siga uma dieta que se integre ao seu estilo de vida e hábitos familiares para sofrer menos. As pessoas que emagreceram e mantêm-se assim por anos, escolheram um regime que foi incorporado com facilidade ao dia-a-dia.



Não vou poder viver sem...

Se o que desanima é o receio de fracassar porque você tem certeza de que não vai deixar de consumir o que gosta, nas quantidades que deseja, talvez não tenha se dado conta de que essa é só mais uma das várias limitações que a vida impõe. “O segredo para não transformar isso num fantasma é tirar uma pitada de drama e acrescentar várias outras de prazer”, ensina Vivian. Existem vários pratos gostosos que não engordam e há inúmeras alegrias que podem ser tanto ou mais satisfatórias do que comer além do necessário. Vamos relembrar:

O prazer de poder usar “aquelas” roupas; ir à praia sem sentir vergonha do próprio corpo; ter mais fôlego para atividades que exigem fôlego... sentir-se mais atraente e desejada.

"Olhe o lado bom da dieta . E, assim , vença as privações!"

“Pensar no que se tem a ganhar e não no que se vai perder ajuda muito”, sugere Behar. Uma boa solução prática pode ser continuar se alimentando com algumas coisas das quais se gosta, em menor quantidade. “Mas isso não funciona para todo mundo”, alerta o psiquiatra Adriano Segal. “Para alguns basta saborear um pedacinho (de chocolate?) para desencadear o descontrole”.

Tem gente que prefere estar em paz acima do peso do que lidar com a inquietação da dieta. Pode ser mais fácil, mas não é melhor. “Tudo que coloca em risco a rotina gera ansiedade”, observa a psicóloga Vivian Behar. É verdade que estar com alguns quilos a mais gera aflição também. “E, creia, uma dieta equilibrada não gera ansiedade, embora haja exceções. A ansiedade oral é mais freqüente nos quadros de bulimia ou comer compulsivo”, esclarece o médico Adriano Segal.

Se você não tem nenhuma doença e mesmo assim fica angustiado só de pensar em mudar o cardápio, talvez seja conseqüência de focar mais os aspectos negativos do que os positivos do emagrecimento. “Valorizar os resultados e as conquistas em vez de contar quantos quilos ainda falta perder ajuda a serenar as emoções”, orienta Vivian Behar. Portanto, nada de medo: encare a missão com coragem. Vale tentar, sempre!



Ajude-se!


• Não use experiências anteriores negativas como referencial e sim como alerta para vencer as dificuldades.
• Fuja de produtos “milagrosos” para emagrecer e dietas excessivamente restritivas ou monótonas – normalmente elas nos fazem imaginar que não temos força de vontade, quando, na verdade, a dieta é inexeqüível e atrapalha em vez de ajudar.
• Aceite como bons os resultados conquistados e evite falsos ideais, como ter o corpo de uma modelo famosa, por exemplo.
• Jamais se automedique com laxantes, diuréticos, moderadores de apetite ou outros medicamentos, sem orientação médica.
• Se você sofre de ansiedade excessiva ou não consegue emagrecer com os regimes que conhece, procure orientação de psicólogos e nutricionistas.
• Tenha em vista objetivos de longo prazo, ao invés de subir na balança a toda hora, esperando milagres. Isso ajuda a diminuir a ansiedade.


Fonte: Revista Boa Forma

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