_____

Dieta da Beyoncé


quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Os americanos sempre gostaram de uma receita infalível para perder os muitos quilos extras. É só aparecer uma celebridade em sua nova versão rapidamente magra e pronto: está lançada uma nova moda.


A musa agora é a cantora Beyoncé. Sua receita infalível chama-se Master Cleanse, um jejum criado na década de 70, supostamente para limpar as toxinas do corpo e melhorar os hábitos alimentares – um típico regime de faquir. Beyoncé precisava perder alguns quilinhos para viver um papel no filme Dreamgirls. Nada poderia ser tão eficiente quanto não comer.



A dieta adotada por Beyoncé consiste num jejum que pode durar de dez a 40 dias. Nesse período, o corajoso tem de ingerir apenas suco de limão misturado com pimenta vermelha e xarope de bordo, planta cuja folha é o símbolo do Canadá. À noite, bebe-se apenas um chá laxante. Pela manhã, água com sal. Tudo com o nobre propósito de facilitar a limpeza do organismo. “O corpo guarda a maioria das toxinas nas células de gordura, e o jejum é necessário para que essas células possam ser quebradas e as toxinas eliminadas”, afirma o designer Peter Glickman, autor do livro Lose Weight, Have More Energy & Be Happier in 10 Days (Perca Peso, Tenha Mais Energia e Seja Mais Feliz em Dez Dias), lançado há dois anos nos Estados Unidos. Glickman aderiu ao Master Cleanse em 2003. De lá para cá, afirma recorrer ao jejum de dez dias uma vez a cada três meses. Ele não é médico nem nutricionista. Diz ter acompanhado a desintoxicação de mais de mil pessoas. “O limão e o bordo dão energia. A pimenta é para ajudar a dilatar os vasos. Já a água com sal é para facilitar o trabalho do sangue”, afirma. “As pessoas se sentem muito bem durante a dieta.”

O primeiro livro sobre a dieta Master Cleanse foi publicado em 1976 pelo americano Stanley Burroughs, morto em 1991. Na introdução da obra, Burroughs faz uma dedicatória com promessas genéricas: “Para os novatos e também para os estudantes avançados, a purificação serve para eliminar qualquer doença. A proposta deste livro é simplificar a causa e a correção de todas as desordens do corpo, não importando o nome que se dê a elas”.


Dietas radicais deixam o organismo em alerta. Quando volta a comer, a pessoa engorda ainda mais

Beyoncé diz ter perdido 10 quilos em dez dias graças à dieta Master Cleanse. Assim que apareceu em público com as novas curvas, arrastou uma legião de entusiastas da perda mágica de peso. Como a dieta promete desintoxicação e prega a mudança de hábitos, atraiu também jovens desesperados por largar a cultura do fast-food. Começaram a aparecer na internet diários filmados com as experiências dos novos adeptos. Em sites como o YouTube, é possível acompanhar o calvário dos esfomeados dia após dia. São mais de 280 filmes. O resultado é um reality show caseiro em que os jovens contam como passaram o dia, se emocionam e até relatam como está o intestino – e o que sai dele.

Os interessados são seduzidos pela perda de peso rápida. Só que o jejum ativa um estado de alerta no organismo. Quando a pessoa volta a comer, as calorias são estocadas com maior eficiência. Isso faz com que o incauto recupere rapidamente todo o peso perdido. Muitas vezes, a pessoa fica mais gorda que antes da dieta, em um efeito conhecido como “sanfona”. De acordo com Marcio Mancini, supervisor do laboratório de obesidade do Hospital das Clínicas, em São Paulo, o corpo reage a essas dietas como se estivesse sendo agredido. “O organismo tenta economizar o máximo de calorias e, quando a pessoa volta a comer, ele continua fazendo isso. Por isso, o ganho de peso é bem rápido”, diz Mancini.

A limpeza do organismo é outra das justificativas de quem faz a dieta. Mas os especialistas dizem que limpar o corpo por alguns dias e depois voltar a comer o que faz mal não traz nenhum efeito benéfico. O jejum também pode acentuar as carências nutricionais que afetam muitos obesos. “Dietas restritivas como essa não contribuem em nada para a melhoria dos hábitos alimentares. A pessoa se priva e depois volta aos velhos hábitos. Já vimos essa história acontecer muitas vezes”, diz o endocrinologista Walmir Coutinho, presidente da Federação Latino-Americana para o Estudo da Obesidade. “Alguns americanos morreram de parada cardíaca depois de fazer um programa semelhante, no qual só era permitido comer frutas.”

Ainda não existe relato de morte ou queixas graves de pessoas que embarcaram na Master Cleanse. Nos relatos da internet, porém, há indícios de que ela pode não ser inofensiva. Um rapaz que seguiu a dieta por um mês e meio aparece nitidamente transtornado no diário filmado. Em alguns vídeos, os jovens parecem eufóricos. A americana Laycie Davis, de 27 anos, estudante de Computação no Estado do Oregon, afirma ter feito dez dias de jejum em maio. Filmou cada um deles e deixou tudo documentado. Sua meta era largar a junk food. A proposta inicial não foi alcançada. “Perdi peso e incluí frutas em minha dieta, mas, com o passar dos dias, fui voltando aos velhos hábitos e engordei novamente”, disse a ÉPOCA.

Os médicos especializados em emagrecimento encaram a Master Cleanse com aquele ar de quem já está vacinado contra essa história de milagres que queimam calorias. Embora os dois livros de Burroughs não tenham sido lançados no Brasil, eles continuam a vender bem nos Estados Unidos. Muitos internautas ainda se perguntam qual a causa da misteriosa morte do autor, em 1991. Seu caso lembra a polêmica em torno da dieta do Dr. Atkins. Atkins propunha um regime com o mínimo de carboidratos, mas ultragorduroso. Morreu do coração aos 75 anos, com as artérias entupidas.



Fonte:revistaepoca.globo.com

- -

0 comentários: