Depois da polêmica do uso do formol, a indústria cosmética tem investido em alta tecnologia para oferecer alisantes cada vez menos agressivos e ainda mais seguros. No entanto, os cuidados devem continuar, principalmente quando alisamento e coloração se encontram. Conheça melhor os ativos e suas combinações
Por Françoise Gregório
Tioglicolato de amônio
Age no córtex, quebrando as ligações de cistina (um dos 18 aminoácidos, partes de proteína que formam a fibra capilar). “A cistina representa 36% da composição da queratina e é responsável pela resistência e forma do fio”, comenta o químico. No entanto, a força do produto para quebrar tais ligações é a menor entre as bases, ou seja, alisa menos. Em compensação, a agressão também é reduzida, provocando menor perda de proteínas e de água do interior da fibra. Com a quebra e fragmentação das estruturas protéicas, há maior perda dos pigmentos do córtex, principalmente nos coloridos, pois os artificiais são mais fáceis de serem removidos. Resultado da mistura de hidróxido de cálcio e carbonato de guanidina, é mais potente na quebra de ligações de cistina do que o tioglicolato, mas sua força é menor em relação ao sódio e ao lítio. Como não é encontrado pronto no mercado e sua reação é feita em salão, exige habilidade do cabeleireiro. A mistura deve ser feita com cuidado, pois se usado cálcio em demasia o resultado é ressecamento. É indicado para cabelo virgem ou já alisado com essa base, seja crespo, afro, grosso ou resistente. Cabelo trabalhado com a substância pode ser colorido, de preferência com tonalizante sem amônia, que não interfere na estrutura interna do fio e apenas deposita os pigmentos em sua superfície. Na coloração permanente, a amônia aumenta o pH. Dessa forma, provoca expansão de estrutura e a abertura da cutícula para que pigmentos artificiais juntem-se aos naturais presentes no córtex. Algumas empresas sugerem tinturas com oxidante de até 20 volumes, que garante eficiência com menor oxidação ou dano à fibra. Em lisos com guanidina não é recomendado fazer reflexos, pois o ressecamento provocado pelo cálcio e a perda protéica na quebra das ligações de cistina são potencializados pelo oxidante. Se a cliente quiser correr o risco, é preciso alertar que ela deverá redobrar os cuidados no salão, para compensar os danos. “No clareamento de pontas, sugiro o tonalizante. O resultado não é tão claro, porém é mais saudável”, comenta Schettini. Hidróxido de sódio Uma das bases mais usadas, tem ação intensa porque, além do grande potencial para quebrar as ligações de cistina, contém moléculas menores, penetrando facilmente na fibra. Na concentração igual à do tioglicolato, por exemplo, quebra maior número de ligações em menor tempo, resultando em um alisamento mais rápido. Conforme o químico Adriano Pinheiro, o componente é a soda cáustica, a mesma usada para desentupir pia! A substância é adotada em cabelo virgem, já alisado com a base, crespo e afro. O fio deve ser resistente e o cabeleireiro, hábil em trabalhar com o produto, afinal ele favorece a perda de proteínas, por quebrar mais ligações de cistina. Além disso, o sódio rouba água da fibra, aumentando o ressecamento. Para o especialista, o ideal seria usar produtos de baixa concentração. Quando ela é alta, o pH abre as escamas da cutícula, facilitando a fuga de pigmentos e a diminuição do brilho. Luzes e mechas não devem ser realizadas em madeixas processadas com hidróxido de sódio, porque o oxidante potencializa os danos. A resistência do cabelo fica comprometida, podendo ocorrer quebra. “Um cuidado é perguntar à cliente se ela já fez clareamento alguma vez. Afinal, sob uma coloração escura pode estar uma fibra capilar descolorida”, aconselha Gisele Quintino. Cores escuras e sem amônia são permitidas, após teste. Se a cliente insistir na coloração com amônia e a prova de mecha mostrar fio resistente, alertar que a química pode piorar a abertura de cutículas, trazendo ressecamento e perda de brilho. Altamente reativo, agressivo e de penetração rápida. Seu potencial para quebrar as ligações de cistina é o mais alto quando comparado na mesma concentração com as outras bases. Porém, o hidróxido de lítio é menos usado do que o de sódio, por ser menos disponível e mais caro. Assim como no uso da guanidina e do sódio, o correto é a aplicação de tonalizante ou tintura semipermanente, ambos sem amônia, para não interferir ainda mais no córtex e abrir as cutículas. Caso o teste de mecha permita a coloração e a opção for pela permanente, também é preciso avisar que a amônia abre as cutículas e favorece a perda de proteínas. Ou seja: a cliente vai ter de cuidar bastante da cabeleira. O produto é restrito a fios muito crespos e sem coloração ou descoloração. “Apesar de esse ativo começar a ser utilizado após o hidróxido de sódio, não há comprovações de que sua ação seja menos agressiva. Ele apenas permite que o processo de alisamento aconteça mais rápido”, comenta o químico da Kosmoscience. Aqui vale a mesma dica dos outros alisantes com hidróxidos: preferir produtos de baixa concentração de lítio para garantir um pH menor e, consequentemente, dano reduzido à fibra. Alisa e colore os fios e é incompatível com outras substâncias alisantes. Segundo Gisele Quintino, quem utilizar esse princípio precisa ter paciência se quiser modificar o cabelo, pois ele não poderá ser colorido nem tonalizado. “A cliente deve esperar os fios crescerem e ir cortando as pontas para eliminar o produto. Os metais presentes no henê são incompatíveis com os agentes das tinturas e tonalizantes. Caso o procedimento seja feito, a fibra capilar sofre reação química de aquecimento e pode se partir”, comenta a especialista. Feito com composto de aminoácidos, o procedimento só resulta em alisamento quando misturado a um meio de pH adequado, que pode ser mais ácido. Apesar de atuar na estrutura interna da fibra, mantém suas características, além de conferir resistência e hidratação. Já os polímeros de silicone não alteram a estrutura capilar por apresentarem peso molecular maior e agirem superficialmente. Com fios mais pesados, o volume tende a ser reduzido. Mas esse processo é gradativo e não oferece o resultado de outras bases. As duas substâncias são compatíveis com cabelo descolorido e tingido que já tenha sido alisado com essa base, além de ondulados e crespos. O inverso também acontece: após reduzir o volume com eles, estão liberadas as colorações com amônia.
Esse processo ocorre, na verdade, com todos os ativos alisantes. O tioglicolato é geralmente aplicado em fios virgens ou anteriormente processados com ele. Atua melhor nos finos. ”Se as madeixas apresentam-se frágeis após tinturas e descolorações, prefiro o tioglicolato de amônio para alisar”, revela a cabeleireira Sônia Nesi, do Studio de Beleza Sônia Nesi, no Rio de Janeiro. De acordo com Gisele Quintino, técnica da Truss, é o ativo mais democrático pois, como danifica menos, vai bem com todas as colorações. Porém, como lembra Paulo Cesar Schettini, do Spaço Schettini, é preciso deixar claro para a cliente que fios lisos e louros exigem dedicação. Além de hidratar em casa, deve-se cuidar deles com ajuda profissional pelo menos uma vez por mês e recorrer a tratamentos como cauterização.
Hidróxido de guanidina
Hidróxido de lítio
Henê
Aminoácidos e polímeros de silicone
Fonte: Revista Cabelos & cia
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