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Disturbios Alimentares femininos


quinta-feira, 21 de maio de 2009

A Revista CLAUDIA Selecionou quatro casos sobre a neurose alimentar feminina – e o que fazer para se livrar dela.

Por Denise garcia




Quem não viveu, pelo menos em algum momento da vida, uma relação de amor, ódio e alguma esquisitice com a alimentação? Não, não estamos falando dos pecados da gula, mas da fome emocional. Nem sempre ela está associada ao excesso de comida; muitas vezes pode se manifestar pela rigidez na escolha do menu ou pela escassez no prato. O fato é que, para manter o equilíbrio de corpo e mente, não existe prato pronto. “Mas, se reconhecermos a causa do desconforto, poderemos amenizar os sintomas”, explica Maria Aparecida Neves, psicóloga com especialização em transtornos alimentares, psicologia do esporte e florais de Bach. Uma das armas mais valiosas contra os deslizes alimentares é o autoconhecimento. “Quando investimos nele, ficamos mais seguras e passamos a fazer escolhas mais sensatas”, explica Laila Pincelli, psicóloga da Clínica da Mulher e especialista em terapia familiar. As duas terapeutas, de São Paulo, comentam o que está em jogo nas diversas neuroses que vão à mesa.



Neurótica por dieta

"Nem sei dizer quantas dietas já experimentei. Basta uma amiga emagrecer rápido e logo quero copiar o que ela fez. Meus pais e meu namorado dizem que eu não preciso, mas temo voltar a ser gordinha, como na adolescência. A preocupação deles faz sentido, eu já desmaiei duas vezes por causa de regimes radicais. Hoje, mantenho distância das “novidades” muito restritivas ou milagrosas, mas procuro sempre melhorar meu corpo. Desde os 15 anos, brigo com o peso – emagreci 10 quilos, recuperei 15, perdi mais 20. Vivo controlando a compulsão quando estou triste ou estressada, e não é nada fácil. Se escorrego, apelo para a lei da compensação: tomei sorvete à tarde? Tchau, jantar."


CAMILA MATOS, 26 ANOS, JORNALISTA, DE SÃO PAULO


Palavra de especialista

Toda gordinha ou exgordinha morre de medo da balança. Investir em regimes drásticos pode até trazer resultados imediatos, mas não duradouros. Aí você entra na roda-viva de novo. Para quem já emagreceu, como a Camila, o que importa é atualizar a autoimagem, resgatando a confiança em si mesma. Quem não se enxerga na “nova embalagem” embarca na repetição de situações (dietas que não funcionam) e se prejudica.


Alerta

Cardápios radicais desencadeiam alterações metabólicas, gastrointestinais e cardiovasculares. No aspecto emocional, podem acionar transtornos como anorexia e bulimia. Experimente: pedir ajuda profissional para achar uma dieta que se adapte a você, e não o contrário. Tente aceitar-se mais e cobrar-se menos.




Maluca por bobagens

"As “porcarias” me acompanham desde os 16 anos e nunca tive problemas de saúde nem engordei. Apesar de saber dos perigos de uma dieta assim, simplesmente adoro almoçar pizza, hambúrguer ou matar a fominha da tarde com petiscos, bolachas, doces... Às vezes, me sinto culpada, como quando troco o leite pelo refrigerante no café-da-manhã. Então, para compensar, em alguns dias me alimento direitinho. Também entrei para uma academia de kung fu porque malhar faz bem à saúde. Minha família, meu marido e minhas amigas já desistiram de falar sobre o assunto porque eles entenderam que não adianta. Não quero mudar. Sou feliz assim. "


DANIELA TAVARES, 30 ANOS, COORDENADORA DE COMUNICAÇÃO E MARKETING, DE SÃO PAULO


Palavra de especialista

Essa atitude revela um certo ar de superioridade diante de riscos evidentes, como se alguém tivesse o privilégio de ser intocável. “O relato mostra que ela não tem controle sobre os impulsos nem consciência da realidade. Isso indica que houve uma falha no aprendizado de vida dela. A criança é treinada para, na idade adulta, ter gestão eficiente de tudo o que a cerca, inclusive da própria alimentação”, diz Aparecida. “A autoestima elevada demais está baseada numa ilusão, como a de invulnerabilidade, e impede que a pessoa reconheça limites”, conclui.



Alerta

Inúmeros estudos comprovam que a má alimentação está ligada a problemas de saúde, incluindo o câncer de estômago e de intestino. Todo abuso tem consequências, mesmo que elas não sejam imediatamente visíveis para pessoas que estão desconectadas do seu corpo e da sua saúde. Experimente: colocar alguns alimentos nutritivos no cardápio, como iogurte e frutas. Trocar frituras por assados fará grande diferença.



Doida por cigarro e café

"Começo o dia fumando e bebendo meu cafezinho. Eles me acalmam e ao mesmo tempo me deixam alerta para trabalhar. Como médica, sei que isso é prejudicial. Em casa, só fumo na varanda, pois quero preservar meus filhos. No trabalho, apelo para enxaguatório bucal e chiclete para que os pacientes não percebam. Até cortei o cabelo bem curto porque assim o cheiro do cigarro fica mais discreto. Apesar do péssimo hábito, cuido da alimentação. Faço escolhas saudáveis para manter o peso e uma boa imagem nas consultas, pois atendo muitos casos de obesidade. Detesto junk food e não sou chegada em doces – cigarro e café em excesso alteram o paladar, o açúcar perde todo o encanto! Há alguns anos, descobri um nódulo nas cordas vocais e me apavorei. Era benigno. Tentei parar de fumar e não deu certo. Comecei a ter dificuldades respiratórias, dor no peito, mal-estar. Tive que voltar!


MARIA*, 49 ANOS, ENDOCRINOLOGISTA, DE SÃO PAULO"



Palavra de especialista

Abandonar vícios exige tempo, dedicação e paciência. Mas, aqui, o que se vê é alguém em conflito: sabe que se prejudica, mas não consegue mudar. Ela é movida pela falta de fé em si mesma, pelo descaso, em geral associado à baixa autoestima. No entanto, quem consegue montar tantas estratégias para camuflar o vício tem, sim, condições de vencer o inimigo. Nem sempre é uma questão de força de vontade. Muitos dependentes de tabaco necessitam de tratamento médico e devem buscá-lo.


Alerta

A combinação explosiva poderá, a médio ou longo prazo, provocar insônia, taquicardia, problemas de pressão. Sem contar os tipos de câncer associados ao tabagismo. Experimente: praticar um esporte. Ele garante bem-estar e disposição de verdade. Tudo o que a dupla cigarro e café parece oferecer, mas que é falso.

* Nome trocado a pedido da entrevistada



Fanática por saúde

"Hoje sou uma vegetariana light, mas já fui bem xiita. Durante anos, não comi nada de origem animal nem com agrotóxicos ou que provocasse dano ao planeta (gerasse fumaça por exemplo). Enfim, meu cardápio era restritíssimo. Por ironia do destino, me apaixonei por João. Ele trabalha em uma empresa que comercializa carnes e embutidos – tudo o que eu mais condenava. Percebi que perderia uma chance de ser feliz com ele se continuasse tão rígida. Permaneço adepta dos orgânicos e não consumo carne vermelha, mas abri passagem para peixe; leite e queijo, só de soja. Ele também aprendeu a usar ervas no lugar de sal e a gostar de bolos integrais. Embora eu nunca tenha tido problemas de saúde por causa da alimentação natural, confesso que meu humor melhorou. Parei de julgar os outros. Amo alguém que come churrasco!


ANA CLAUDIA MARTINS, 34 ANOS, EMPRESÁRIA , DE SÃO PAULO"


Palavra de especialista

Não há problema em cuidar da alimentação e do planeta desde que a causa não se transforme em um fardo (ou você vire uma chata). Quem radicaliza demonstra uma cobrança interna intensa e desgastante – em geral, são indivíduos críticos, intolerantes, que sentem necessidade de se purificar e querem impor seus ideais de pureza aos outros. Mas a rigidez afasta os amigos e faz com que a própria pessoa vire um carrasco de si mesma.


Alerta

A crença de que se é dona da verdade pode ser tão prejudicial ao organismo e ao planeta quanto uma alimentação desregrada: é causa frequente de doenças psicossomáticas e divergências entre as pessoas. Experimente: conviver com quem pensa e se alimenta de forma diferente de você – como fez Ana Claudia. Isso permite uma socialização saudável e importante.

Fonte: Revista CLAUDIA

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